Para o Henrique
Bianchini e Ana Luiza Leão
E seus ouvidos abençoados.
No final do dia
Extravaga na cidade
Um rumor desarrumado.
Agregado
Do pregão dos ambulantes,
Do vozerio das ruas,
Do tropel das
solas
Dos muitos passos do povo,
Do silvo de um ônibus,
Do guincho de outro,
Do uivo da
sirene,
Do rock pop da
loja de CDs,
Da pregação do crente na praça,
Do grito sem nexo
do louco manso que habita a calçada.
Do sino distante,
Da brusca freada do carro da frente,
Da buzina raivosa, do chiar das rodas,
Do palavrão indecente,
Do celular que toca e da voz que atende.
E tudo se repete sem modo algum,
Mais o choro da criança na mão da mãe,
O desconto anunciado na entrada da loja,
O estalo de
tiro, o grito de raiva,
A serra da
construção.
E tudo mais uma
vez, noutro desconserto,
Mais o alegre alarido na porta da escola,
O ronco das motos,
A televisão ligada,
O escapamento
explodindo.
E tudo de novo, noutra desordem,
Mais o som da descarga
A batida do martelo
A porta de aço baixando,
O skate rolando
no chão de asfalto,
O motor da bomba na caixa d´água
A campainha da
porta.
E tudo repetido, sem nenhuma ordem,
Mais o rumor do
caminhão do lixo,
da corrida do gari
e da máquina de prensar o recolhido.
E tudo se transforma na mesma massa
E escorre um fio que ecoa um mar distante.
Um e dois, forte e fraco, sístole, diástole,
marcham binários
todos os corações ordeiros.
Qual o (des)compasso da vida desta cidade?