sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Esconde-esconde


Brinco de esconde- esconde
Entre as minhas fantasias
Procuro-me, mas onde, onde
Nas salas vazias?

Fora não vale,  grito
Em fingida irritação.
Mas corro para os quintais da vida,
Espaço enorme em  becos e ladeirinhas,
Portas abertas e fechadas.

Acusado aí,  no armário  da infância,
Acusado aí, nos desvãos da juventude.
A resposta do silêncio não surpreende
Pois certamente sei
que não me escondo nas fantasias velhas.

Acusado aí, no portão da rua.

Então sou obrigado a  sair vencido
Da fantasia de caminhar além do existir...

sábado, 19 de novembro de 2011

Martírio do desamor


      
                                    Lembrando  Rosa Montero

Martírio do desamor
Na dor do afeto perdido
Medido insone nas noites.

Açoites  só de negrume
Costume de secas lágrimas
Esgrimas,   fio de  florete.
Na rede das emoções
Vulcões em lavas geladas.

Aladas línguas  zombando
A mando de  alheio pesar,
No bar em que confessara
A rara  mágoa sofrida .

Dorida  paixão  presente,
Ausente  faz do futuro
O muro que nos separa
Da clara bruma do olvido.

A dor de amor que assim era,
Quimera  é,  nada mais. 
 
                           

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

ESFORÇO DIÁRIO

Acha-se sério demais
No espelho matutino.

Faz, então, fino exercício
De sorriso
E o mantém preciso
Durante parte da manhã.

Para estreitar-se  aos poucos
no correr do dia,
Qual  riacho na estiagem.

Ao final da tarde,
mal tem passagem
entre os lábios ressequidos.

Chegada a  noite,
Quando de novo atina
Com as manhãs de seu destino
Só resta areia seca e fina.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O vento leve que a mim leva



O vento leve
Infla-me mais que a camisa
E ao passar por mim,
A  mim me leva.

Terreno baldio,
Mato rasteiro,
um pé de mamona vadio
(Que a seu tempo dará  munição
aos bodoques, estilingues, atiradeiras,
de ignorados gregos, ingleses, portugueses,
nas mãos armadas dos meninos).

Céu azul,
temporada  de  quadrados, pipas, arraias, papagaios.
Que sobem com todos com seus nomes
No rumo das nuvens brancas.

(Fácil o entendimento
entre os moleques desta rua
vindos de tão sortidos  lugares:
Soltar pipas...que é isto?  Ah...papagaios de papel, é assim que se chamam, pois...)


Época de pião, soltar pião.
Época de bolinhas de vidro, bolinhas de gude.
(E, mistério imenso,
Tudo em perfeito sincronismo
Em todas as paragens da cidade inteira)

Num átimo
Retorno à caminhada
Coração oxigenado.

Como sempre
Passado e presente
Seguem juntos.