terça-feira, 18 de junho de 2013

Navegar é preciso



Dentro de mim tenho um lago (profundo).
E fora um oceano (que não é meu).
Vastidão  desconhecida  (no oceano),
Sabidos  mistérios  (no lago).
Qual a maior aventura? (aventurar em qual deles? )
Vamos sem barco (a braçadas).
É preciso mergulhar (haja fôlego)
Para encontrar o caminho que une
O fundo dos mares e dos lagos.

Dia e Noite




O homem que dorme
sob um  cobertor
ao sol
invernal desta calçada,
com que sonhará?

Sua existência é apenas
a  sucessão das horas.

A memória do dia
não é
a memória do sonho.
Mas o dia
pode ser  tão aflitivo
quanto o pesadelo
do insone
que de olhos abertos
dorme em sua imobilidade.

Aventura final




Árvore imensa
Tronco robusto,
Folhas verdes.
Mãe e pai
Um sem outro não é
E tantos somos.
Voarei um dia para fora dela
E não serei.



Inveja




As mãos crispadas na grade
O olhar solto nos telhados.

Um abutre   circula  alto
Fariscando  o   azul  da manhã.


Fecha os olhos
Volta o rosto e aspira fundo
o ar pútrido da cela.

NO FINAL DO DIA



                                                    Para o Henrique Bianchini e Ana Luiza Leão
E seus ouvidos abençoados.

No final do dia
Extravaga na cidade
Um rumor desarrumado.
                                 
Agregado
Do pregão dos ambulantes,
Do vozerio das ruas,
Do  tropel das solas
Dos muitos passos do povo,
Do silvo de um ônibus,
Do guincho de outro,
Do  uivo da sirene,
Do rock  pop da loja de CDs,
Da pregação do crente na praça,
Do grito sem nexo
do louco manso que habita a  calçada.
Do sino distante, 
Da brusca freada do carro da frente,
Da buzina raivosa, do chiar das rodas,
Do palavrão indecente,
Do celular que toca e da voz que atende.

E tudo se repete sem modo algum,
Mais o choro da criança na mão da mãe,
O desconto anunciado na entrada da loja,
O  estalo de tiro, o  grito de raiva,
 A serra da construção.

E  tudo mais uma vez,  noutro desconserto,
Mais o alegre alarido na porta da escola,
O ronco das motos,
A televisão ligada,
O  escapamento explodindo.

E tudo de novo,  noutra desordem,
Mais o som da descarga
A batida do martelo
A porta de aço baixando,
O  skate rolando no chão de asfalto,
O motor da bomba na caixa d´água
A  campainha da porta.

E tudo repetido, sem nenhuma ordem,
Mais o rumor  do caminhão do lixo,
da corrida do gari
e da máquina de prensar o recolhido.

E tudo se transforma na mesma massa
E escorre um fio que ecoa um mar distante.

Um e dois, forte e fraco,  sístole, diástole,
marcham  binários todos os corações ordeiros.

Qual o (des)compasso da vida desta cidade?