quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Lembranças

Aos 70 anos  estamos inundados por lembranças, qual um vale em que se represou o rio da vida.
Algumas são de acontecimentos determinados, e vêm à  tona com facilidade ou ao alcance de rápidos mergulhos.
Outras são apenas de sensações e  só a custo de  meditação e esforço somos capazes de descobrir o fio que as une ao momento em que as tivemos.
Proust foi mestre nestas reflexões. Extremadamente abdicou de viver para reviver o que já tinha dentro de si.
Outras, contudo,  estão tão emaranhadas que são quase que puramente conceituais, como se engendradas num processo  misterioso, espontaneamente gerado por tudo que se foi depositando no fundo do vale.

Há uns quatro anos escrevi a poesia que transcrevo abaixo e que acabei por inscrever num concurso de poesias promovido pela OAB. Acabou premiada em quinto lugar, dentre  mais de 300 inscritas. Quem diria ...

Lembrança

Há uma lembrança num canto da casa
E ela me comove.
Não sei o quarto, a sala, a casa.
Não sei a rua.

Há uma lembrança
e ela me enternece.

Há uma casa, um lugar.
Uma prece.

Não sei a reza: um murmúrio.
Não sei a palavra, o lugar da memória.

Há uma lembrança vasta
e ela me abraça.

Não sei o dia, a semana, não sei a data
Não sei  o aroma que o  vento move
Não sei a janela,  não sei a praça.

Há uma lembrança.
É humana
e ela me basta.

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