Ao ingressar como escriturário na Caixa Econômica do Estado de São Paulo, em 1962, encontrei lá um Jornal dos funcionários, que era editado pelo colega Antonio Possidônio Sampaio, então funcionário, estudante de direito e jornalista. Hoje advogado e escritor. Publiquei então a poesia com que dou inicio às postagens deste blog.
Mas não era inteiramente verdade que eu tivesse a voz alegre e não quisesse nada com minha poesia. Já havia publicado algumas outras e achava, talvez ache ainda, que a poesia tinha por destino despertar o que está adormecido nas pessoas ou, pelo menos, chamar atenção para o que esta sendo negligenciado no mundo externo ou dentro de nós mesmos.
A Saudação quem chega
A voz alegre não saiu ainda;
Tem morrido na garganta seca,
Deixando apenas um murmúrio
Que ninguém escuta, de tão fraco.
Venho chegando como um rio que corre:
Calmo e murmurante. Mas não trago
Nada entre minhas águas.
- Apenas a voz alegre, escondida ao fundo,
Entre as pedras brancas e redondas...
Tive vontade um dia,
De fazer um auto retrato honestamente;
Seria tudo – menos ser humano!
Seria uma árvore verde
Ou um pássaro palrador,
Ou um animalzinho qualquer,
Arisco e doce.
Mas uma árvore sem muitos frutos,
Um pássaro de ninho pobre,
Um esquilo, talvez, sem castanhas escondidas.
Venho chegando e não tenho nada.
É isso!
Venho de mãos abertas,
Sem embrulhos por debaixo do braço,
Sem coisa alguma nos bolsos vazios,
A alma rasgada de alto a baixo
Escancarada como u´a janela aberta ao sol
O olhar esparso pelas coisas belas,
O coração tão calmo
Quanto um candeeiro aceso...
E nada mais!
...também não quero nada,
Ou quase nada,
Tenho a voz alegre,
Quero somente a graça de dizer:
- Bons dias....
Nenhum comentário:
Postar um comentário