segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Na praça quase deserta


Eu absorto numa interior conversa
Ela veloz na sua pressa.

Eu hesitante nos meus passos,
Ela elegante, jovem, decidida.

Nossas trajetórias se cruzaram
Numa diagonal insuspeitada.

Uma qual da flecha depois de disparada,
Outra retificada a todo instante.

Surpresos, melhor diria, contrafeitos,
tivemos de parar ao meio do vazio.
Gentil, lhe dei passagem,
E cada qual seguiu o seu destino.

Ela, não sei...

E eu a perguntar-me
Quem teria calculado o vetor do encontro fátuo?
Direção, distância a percorrer, velocidade,
Um passo maior, outro menor,
E quanto importa nisto
Quão maior a inquietação do atraso,
Ou mais complicado o pensamento?

Um desnível,  uma poça  (pois que chovera antes).
Um canteirinho sujo a contornar,
Um  pombo  aos  passantes desatento...

Qual, admita-se,  a causa próxima, ou a extrema
Da indevida
Intersecção das trajetórias?
Que  motivo ou senso  as disporia?

Ou será, agora penso,
Que tudo começou de traz pra frente

-- será, enfim, que tudo é assim na vida?—

Pela necessidade imperiosa do poema?

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