domingo, 18 de setembro de 2011

Poemas da Cidade - I


  
Poemas da Cidade - I

CALÇADA

Nenhuma platéia enxerga
A cena escandalosa
Na enxerga transparente
Da calçada desta rua.

Morreu uma jovem nua
Na cama de papelão
Ao seu lado dorme um cão.

O corpo foi removido
O animal enxotado.

Na cidade populosa
Quem pode estar comovido?


UM BANCO NA AVENIDA DR. ARNALDO.

Dorme estirada no banco
As mãos cruzadas no peito.
Um gorro cobre-lhe a fronte
Andrajos tampam seus pés

Na face um riso desfeito
Deixa ainda sua marca.

Com que será que ela sonha?
Um quarto escuro, um colchão?
Calor de vidros fechados,
Especialmente silêncio?

O que contaria ao divã
De um médico analista,
Se existisse no mundo
Que se diz civilizado?

Que símbolos revelariam
O silêncio e a escuridão
Nos mitos da humanidade?

Ou será que é diferente,
Já que nem conta ou existe?



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